Poesia

 

Aguarelas

Aguarelas
São borrôes de cor subtilmente
            Inteligentemente
Deitados numa tela alva
            Curva
Por mágicos pincéis.


Corações nascem
São flores que florescem, amadurecem e
Murcham tantas vezes quantas
Forem tocados de certa maneira:
Nascem, com os primeiros beijos
Florescem, se sentirem paixão
Amadurecem, ao tocarem outros corações
Murcham, se forem esquecidos, amachucados.
Rega teu coração com o toque de outro.

 

A capa

Já me acariciava, tua voz, canto
Há algum tempo.
Mergulhei nesses olhos,
Encontrei-te, toquei-te
Fizeste-me vibrar de sentires,
Para mim idos...
Num fogo de passado.
Teria sido consumido algo
Assim, tão intenso?
Pensando que desta capa de carne
Te arredarias, quando afianl,
Me despertaste,
Trouxeste ao porto que és
De abrigo.
Em beijos ternos me animaste.

 

Delinquências

Pasto meus sapatos no sólido cobalto
Desgastado de minha casa adoptiva.
Onde de tantas emoções me banhei.
Há momentos em que quebrar
As regras preferia eu,
Deixar o futuro antecipar-se
Pois que a espera desfere golpes
Sangrentos e profundos.
Mas se o futuro um dia não tiver sido,
Mais valia ter morrido ontem.

  

Corpo

Se eu não sentisse
O mar seria meu corp
o
Se os meus olhos não te vissem,
O bater das ondas traria
Minhas lágrimas a todo o mundo.
Se eu não te conseguir ouvir,
Onde alguem escutar o mar,
Terá escutado meu choro.
Mas se su não conseguir
Alguma vez teus cabelos
Voltar a tocar...
A brisa
Trará a meu corpo seu
Toque de seda.

Por agora só te vejo
Ao longe.
É por isso que o mar
Ainda bate nas rochas,
Forte,
Dilacerando-se,
No testemunho do meu
Sincero pesar.

Entrego meu corpo às águas.
Chamar-te-ei,
Minha sereia
Com o cantar das Minhas ondas
Para que te dispas.
            Deixa essas roupas na areia
E venhas para nos tocarmos
Como a costa toca as águas;
Que cada baía é um braço
cada cabo outro membro.

Para que não seja só
O mar, meu corpo,
Irei ter contigo
            Mais que em sonhos
Como temos feito.

 

Dia de frutas maduras

Num dia de frutas maduras
Te adormeça como noite lânguida
O sonhar tranquilo e nú.
Violinem as flores sons de vento
Te acrescentem sentidos curvos,
Recordações de corpos quentes
Aromatizados por odores secretos
Diversos daqueles das flores de volúpia.
Arremessem flores jogos de incerteza.

    Te lleve la muerte dulce
    Entre un dia y otro
    Como a un pajaro en
    Silencio, patitas arriba
    En la calle putre y selvaje

Viajarás uma vez mais, e sem
Entenderes para onde.
Como das outras vezes.
Solta um grito que os calas!
Saíste do carrossel e ainda zonza
Ouves o borbulhar dos sons nos ouvidos
Famintos de la-la-ri-la-la.
Alegria, te levas longe, despiste
O casaco nú

    Te lleve la muerte dulce
    Mas temprano que tarde
    Como si fuera una
    Sonrisa de vino a sacarte
    El trinado de tu corazon largo.

 

A Geografia dos Sentimentos

A geografia dos sentimentos
Posta em dia por qualquer
Lunático atrevido...
            Como se os houvesse!
Existe quem se ponha, de facto,
A pensar no posicionar dos sentires,
Tão nossos, humanos.
            Os outros animais parecem fazer
            Mais sentido.

Colorimos de adjectivos
As nossas insuspeitadas Contradições,
Como se não o fossem, e
Baptizadas já parecessem bem.

Mas uma mentira, demais repetida,
Ainda assim não se faz verdade.
            Nem mentira, nem engano.
Seja lá o que faz o homem por
Esconder
Este temor dos sentimentos
            Não-tão-bem explicados.

Pois nós humanizamos o inexplicavel,
Enganamos as nossas naturezas:
            Traímos a natureza animal,
            Traímos a natureza Divina.
Em nome do fanatismo humano
Este imbecil vivenciar
Ilógico, já perpetuado.

E da fricção das vivências
Na nossa Alma,
Essa dor que surge de matarmos
A liberdade pensante
            - Antes que surja.
Corroi-nos, essa dor apodera-se
De tudo o que somos,
Ferindo o corpo,
Rasgando o mundo.

 

A multidão

A multidão é um rendilhado cinza
De todas as cores.
Eclode dias nublados
Debaixo do sol mais radioso.
Inebria-se sem beber,
Mortifica-se antes que sofra.

 

Permanecer

Permanecer, junto da quase 
Minha desanimada vida.
Abrir os braços do alto dos
Montes amplos, supliquei pelo que
Nunca tive, mal senti, apenas
Sonhei.

Fui dias absurdos, rumando a
Ignoro. Pés nús no caminho
Pedras sem lodo nem planura.
Senti-me mais pronome pessoal que
Índividuo, corpo alma, gozo.

Sorrisos degradé a mim lançados
Quase nunca consequentes
            Raramente molhados
Quase nunca celebrados.
Ficar? sem romantismo me tragasse
O Chão podre longe donde saí,
Em voltar não faço gosto.

Para ouvir sereias cantando a
Fim de me fazer encalhar na
Costa de maré viva.
            Mais viva que eu.
Se tão somente para mim houvesse
Tal bicho - e ousasse cantar-me.

Já tenho o silêncio e a morte,
            Casal romântico,
Por amigos chegados. Por eles não
Me absorve a Terra, de à
Lua me tentar enciúmar.
Às vezes não sei que penso
            Todas as vezes.
Mas recordo o que sonho
E acordo continuando (n'ele).

Continuar? Não navega meu corpo
Já ancorou há muito em
Súplicio azul mar obscuro.
Tão mais terno seria se rasgasse
E lançasse minha âncora no
Outro mundo.

 

Perco-me

Eu sou assim, por enquanto...
Tão ébrio por dentro.
Perco-me nas ruas
Do mundo que abraço,
Recuo a cada dia mais que passa.
Sou alegre na minha melancolia.
Quando me sinto derrotado
Isso faz-me optimista.
Alegro-me de minha
Triste condição.
Mas choro cada vez menos.
Por vezes desejo gritar, chamar
A outra metade da minha Alma.
Sinto-me esquartejado...
Pior dos sentimentos,
Pensar que não me buscas.

Tenho coisas, poucas, para dizer
Mas falta-me ocasião,
Inspiração e sinceridade...
Afinal a que mais preciso...
A saída de dentro.

O sorriso ficou
Quando tudo o resto partiu.
Fiquei aqui
Perdi-me.
Inefável, pois esse teu
Sorriso foi minha luz.
Ganhei asas e quis segui-lo,
Ele debandava fugidio
Em desafio.

 

Dias de intensidade

Mais que momentos
Fortes sentimentos,
Dias de intensidade,
Quase desespero
Tantas surpresas..
E talvez não voltem...
Como tu também.
Nem quero pensar.
Fui eu que mudei
Ou os astros nos abençoaram.

E nova noção do sentir
Me trouxeram.
Tudo se altera e a
Distância me oprime.
Indaga-se o meu ser.
Que fizeste tu de mim,
Adriana?
Em que me tornei?

Preciso de ti, como nunca,
Para fazer sentir
Outra vez momentos
De insopurtável ansiedade...
Só a tua presença...

 

Páteo de sonhos

Tardes e noites pasmacentos 
Desfechos de dias despenhados
Em feitios descrentes conjurados
Em tardes de preguiça
Por bruxas impertinentes...

Desenhos na revista escurecida
P'la sombra de videira indesejada
Tão antinaturalente invasiva dos
Campos de mármore do
Páteo de sonhos.

Há anseios que a ferros tiro.
Se melhor às pedras atiro,
Saberes de mim, de dentro
Em tudo isso penso com doses
Alarves de auto-punição.

Mas se tudo fosse mais simples,
Doce, brando e cristalino, mil
Vitórias no mundo à patria
Trariam só sublime indiferença
E languidez.

Desta colheita de sabores e chilreares
Encantatórios, alvitro:
Viver não valeria se fácil fosse
Nem versos sem final à vista
Escreveria eu.

 

Cinzas

Serei cadáver pouco tempo,
Assim espero.
As chamas propicias
Coloquem um fim digno
Nessa massa indigna,
Minha capa.
E para que não tresande,
Deitem madeira de Sândalo
E tábua de Carvalho
Debaixo do dito, e arda junto.
            Do pó vieste
            Ao pó voltarás.

Este corpo ingovernavel
E sobretudo desconfortavel
Como todos os outros
Tenha um fim ajustado
Ao seu princípio: cinza!


Mórbido e aterrador
É o cenário lúgubre de
Um qualquer cemitério:
Ninho e incubador de mágoas,
Terra fértil ao apego, fertilizado
Pela omnipresente estrumeira
Do desespero.

 

Silêncio...

Não duvides de que sei do que falo. 
É perturbador.
Sempre me deixou irrequieto.
Coisas há que devem ser faladas.
Urge enfrentar os fantasmas;
Usar as palavras certas,
Para não errar. Daí te escreva,
Tentando ordenar minhas ideias,
O que - asseguro-te - não é fácil.

Já faz algum tempo que me disseste
Porque de ti me deveria afastar.
Não te equivocaste ao advertir-me.
Eu, qual bichano assustado, fugi
Com uma mentira.

Fizeste saber que no teu
Coração havia alguem. Não creio.
Quem é esse que não aparece,
Nem te liga,
Não te aquece?
Falamos de um lunático?
Onde está sádico ser, capaz de
Olvidar mulher formidável que és tu?

Não existe essa pessoa, diz-me a
Natureza da minha incerteza,
E para mim, afinal, fica
Reservanda a hérculea tarefa
De buscar para ti sã alegria.

Assim me vejo, preocupado contigo,
Escrevendo palavras sentidas, e
Procurando saber a resposta:
Como encher esse teu vazio?
Esse mar revolto sem marinheiro
Para nele naufragar.
Amaldiçoaste-me por ter escutado o teu
Doce canto de sereia?

 

Verso Aquatico

Ruas fora, pessoas
Deixam-se flutuar
Borbulhando, esbracejando.
Conquistar altura pelo
Avolumar das águas.
Chegarão ao cimo da torre,
Se dilúvio se seguir.
E ousas tu trepar?

Um anfíbio louco
Pegou num copo encharcado
E quis esvaziar o
Oceano de vida molhada
Em que sobrevive.

 

Quase

A vida é a orgia dos loucos
O sepulcro dos honestos
O tormento dos serenos.
No seu devir deixa-me aterrado.
Duvido das razões para viver.
O destino me agurade,
Sobrepuja-me pela distância.
Terror é aguardar.
Posso tudo, Senhor, menos silêncio.
Quase ainda acredito em mim.

Sei, se algum dia deixar de crer.
Esse dia será o maior dos infernos.

 

Pequeno

Estás triste, pequeno?
Sofres, será que sofres?
Ou mentem, teus olhos?
Sim, estás triste.
Imagino que sejas infeliz.
Algumas pessoas são.
E a infelicidade é dificil de suportar
Quando permanente.

Há entre os homens
Aqueles que sentem,
Dia após dia, o
Amargo sabor da tristeza.
Aqueles que desconheçem,
Ou esqueceram, talvez
Que seja a alegria;
Não a dos sorrisos amargos
Não a dos risos efémeros.

Sei de olhos que já
Brilharam, cintilantes de amor
Mas esses olhos choraram e
Faces se baixaram;
Foram escondidas por
Mãos trémulas
De monstros frágeis,
De feras sensiveis.

 

Se

Se folhas caem daquela árvore
Não me culpo por não ouvir,
Como crianças algures chorando
Eu não ioço.
Porque me preocupo se minha alma diz que chora
Eu não oiço.

Se sinto?
Também sou frio, às vezes,
Picadas de bichinhos, toques de
Mãos diversas.

Não oiço minha vida dizer-me
Que está sozinha. talvez
Nem precise escutar isso...
Magoar-me-ia muito
E obrigado a algo estaria eu...

Não te oiço, se me chamas
Mas sinto e escuto a música
A ventos, e penso nisto.
Algures deve estar um sino
Pronto para felicitar meus ouvidos
Mas oiço, demais.

 

Bolas de sabão

Bolas de sabão. Tão frágeis
Ninguem as força a mudar
A rota, sobe pena de as
Extinguir: Nada poderia
Ser mais selvagem.

Dão a transparência, que
Só assim pode ser vista.

Tudo deixa de ser
Logo após.
Entre o sabão inerte e
O sopro vivificante, a
Pureza sublime da àgua.

Tudo menos aceso, embriaguez
Sem efeito, providencial.
Não pensar nelas, nas
Mulheres, algum tempo.
porque havia bolas de sabão.

 

Calles rojas

Son calles rojas...
Les dicen ser miel oscuro
Calles rojas,
O miel oscuro?
No hay recuerdo de amarguras.

Un tornado pasó por aqui.
Y a ellos, sin embargo
Les da la sensación de
Aire al pasar sus manos por la piel.
Incertidumbre.
Están inconscientemente tranquilos.
Para ellos no pasa sino un respiro.
Se sienten quizas mejor
Porque se hacen unas caricias en la
Propria piel.

A mi me duele todo
De monton.
Me pongo un poco loco.
Mientras sigo quedando solo.

 

Angustias

O pranto dos que angustiam
A força já lhes saíu da voz
Talvez de suas gargantas
Tenha saído a carne em sangue
E grito dinâmico final emudeceu.
Já não têm canticos vestidos de
Cansaço; nem garras imensas de
Levantar palha ao alto.
Como se não mais agitassem
Que um lenço de lágrimas palmo.

Abaixo da face salgada,
A dor não lhes foge.
O ardor não me abandona,
Seco de insanidade incontida...
Mais uma vez as chamas.
Fizemos queimar esperanças
Nesta pira da realidade
Insisitente e fugidia.
Em loucura lhe chamamos vida.

 

Serenar

Serenar,
Apartar um pouco
É o deixar-se estar
O rumo do infinito.
Busco um pouco
De menos solidão.
Teria esquartejado
Meu próprio peito
Só para alimentar
Esta fome de Amor;
Voo na imensidão
Das limpas águas
De planicie sem fim...
No meu intimo, até aí,
Me sinto sozinho.
Deixo-me estar, vindo
Do infinito,
Busco um pouco de...
De menos solidão.
Sereno.

Nota:

 

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Sebastian Torres 2010